Fui catar fotografias (...)

Fui catar fotografias pra encontrar casa. Essa casa já foi pântano, num tempo que só conheço por história. Quando foi erguida, deixaram restantes de tijolos, pedras de cimento, azulejos, até bolinhas de gude - tesouros que fomos desenterrando no quintal. As minhocas eram para as galinhas. Já o restante era brinquedo... hoje as pedras só atrapalham sempre que uma planta precisa vir morar, mas os azulejos e as bolinhas continuam para o encanto. Parece que não acabam nunca, mesmo que se deposite nos cantos dos muros ou ao pé do jasmim pequenos pedaços ou rochas de trinta centímetros, os tesouros vão continuar brotando. Na frente da cozinha existia uma macieira, que devia ser a árvore mais rara do mundo e perto dela uma ou duas árvores de ameixas que só podiam ser alcançadas quando vinham pro chão, tão grandes quanto a mangueira. E eu tão pequena, ficava protegida ali por todas as árvores da casa, as da rua, o pé de manga da vizinha. A casa era antes, uma floresta. Não sobrava luz para o quintal, com exceção de algumas faixas de luz que atravessava as folhas e ao meio-dia uma clareira com o sol à pino. Mesmo assim, eu que não encontrei a morte talvez até os doze anos (e não sei direito ainda se conheço dela um pouco, se conhecia qualquer coisa desde antes) fui vendo uma por uma, todas as minhas árvores serem derrubadas. Toda claridade que entrava depois disso, não fora convidada. Melhor fosse que as árvores, tomadas por cupins da raiz até a ponta caíssem sobre a casa, os muros, a rua. Que sobrasse só a floresta, nem que os troncos ficassem inteiros, com cuidado, dormindo no chão.